Quando um livro não está disponível em Braille, voluntários podem lê-lo para quem desejar |
Esqueça a ideia de que é preciso ficar em silêncio dentro de uma
biblioteca. Conversas e leituras em voz alta são liberadas – e muito bem-vindas
- no segundo andar da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, em Belo
Horizonte. Lá, no setor de Braille, voluntários chamados de “ledores” encontram
deficientes visuais que queiram ler livros ainda não disponíveis de modo
adaptado (em áudio ou no alfabeto próprio, em alto relevo).
A maior demanda é pelo conteúdo de provas de concursos públicos.
Diferentes grupos de estudos, como o de matemática, português e direito do
trabalho, já foram criados de acordo com o desejo dos visitantes. Mas não é
preciso ser especialista em um tema para se tornar ledor. “Já tivemos
voluntários adolescentes e também da terceira idade”, explica Glicélio Ramos
Silva, coordenador do setor. “O importante é ter compromisso”, completa. As
reuniões, em dupla ou grupo, são feitas sempre com hora marcada.
Além de ser um lugar para compartilhar o conhecimento, esse setor da
biblioteca também é um ponto de encontro. “O espaço acaba tendo também uma
função social, um polo irradiador de aprendizados e amizades”, diz Adriana
Castilho, voluntária há nove meses e ex-funcionária da instituição.
Andréa (no centro) se prepara para uma prova com o auxílio das ledoras Rose e Adriana |
A deficiente visual Andréa Aparecida Diniz, que trabalha no Tribunal de
Justiça de Minas Gerais, já passou em dois concursos públicos – um dos quais em
primeiro lugar – e, atualmente, estuda quatro dias por semana na Luiz de Bessa,
enquanto se prepara para a prova do Tribunal Regional do Trabalho, prevista
para 2015. “Faço um cursinho particular e, em casa, estudo sozinha com o
material adaptado. Mas não abro mão do tempo com os ledores”, conta ela, que já
chegou a presentear seus ajudantes com caixas de bombons, para agradecer pelo
bom desempenho em um teste. “O melhor agradecimento mesmo é a gente se sentir
tão útil. E até aprender coisas novas”, comenta Rose Rati, psicóloga que se
tornou ledora do projeto há um ano e meio.
Glicélio Ramos Silva, coordenador do setor de Braille |
Fonte: Catraca Livre.
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