, Bibliothings: Bibliotecas públicas: moderno e precário dividem espaço no DF
Bibliothings

Aqui você se informa sobre Biblioteconomia e Ciência da Informação.

Postagens recentes

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Bibliotecas públicas: moderno e precário dividem espaço no DF

Duas realidades existem nas bibliotecas públicas do Distrito Federal. De um lado, investimentos em ambientes digitais modernos e espaços adequados para leitura e estudo. Do outro, salas apertadas e sem sistema de refrigeração, com móveis velhos e poucas opções de conforto aos frequentadores. O fechamento da Biblioteca Demonstrativa do DF, em maio, foi um dos indícios de que muito precisa ser feito.

O espaço na 506 Sul, por sinal, foi alvo de protesto da comunidade local. À época, abraço simbólico no prédio e manifestações foram agendados. A Demonstrativa é de responsabilidade do Ministério da Cultura, e precisou ser fechada devido a problemas de infraestrutura, ainda não solucionados. Como opção, muitos migraram o local de estudo para a Biblioteca Pública de Brasília, na 312/313 Sul, de responsabilidade da Secretaria de Cultura.

A alternativa, no entanto, não tem agradado todos os frequentadores. “A parte externa é boa, mas achei mal conservada”, diz o estudante Pedro Henrique Lantine, de 16 anos. Ele admite sentir falta da Biblioteca Demonstrativa, mas afirma que a varanda do novo local de estudo ao menos é agradável. O rapaz faz uso do espaço para ter aulas de reforço de matemática com o professor particular, o aluno da UnB Pedro Melo, de 19 anos.

“Confesso que não conhecia essa biblioteca. Deveria ter mais divulgação a respeito e poderiam investir em equipamentos para cá”, sugere o instrutor. Professor e estudante concordaram que as mesas bambas e as cadeiras descascadas eram a parte negativa do arejado lugar. 

De acordo com a Secretaria de Cultura, cerca de 500 mil pessoas frequentam as bibliotecas públicas do DF por ano e o acervo tem mais de 400 mil exemplares.

Modernização
Atualmente, quatro bibliotecas do DF passam por modernização, sendo que outras três tiveram o processo concluído recentemente. Para Wander Filho, diretor do Sistema de Bibliotecas Públicas, parte do problema reside na gestão dividida das mesmas. “Temos 11 órgãos e entidades do DF, nove secretarias de governo mais o arquivo público e as administrações regionais por trás”, diz.

Existem 27 bibliotecas públicas no DF. A maioria delas é de responsabilidade regional, mas existe falta de conscientização dos gestores quanto à questão. “Não estamos fazendo diferente do resto do Brasil, mas geralmente eles não entendem que a  leitura é tão importante quanto uma festa”, acredita Filho.


Programa alia leitura a outras atividades
Segundo Wander Filho, diretor do Sistema de Bibliotecas Públicas, um projeto de modernização é o Bibliotecas do Cerrado, responsável pela melhoria das bibliotecas Nacional, do Núcleo Bandeirante e do Cruzeiro. De acordo com ele, a iniciativa foi inspirada em um modelo colombiano de reorganização e destinação de espaços com objetivo de integrar mais áreas de interação ao local onde, antes, havia “apenas” livros. 

Wander destaca que “também foi feita uma espécie de política pública. As bibliotecas foram usadas estrategicamente para fazer ações, como da Secretaria da Criança, que fez encontros para explicar a alunos da rede pública seus direitos e deveres”, conta Wander. Ele acredita na possibilidade, também, de transformação do público mais comum nesses lugares.

“Ao estabelecer o projeto, trouxemos também a terceira idade, a criança e o adolescente para esses lugares”, comenta. No ano passado, indica o diretor, o Cerrado aconteceu de agosto a dezembro, com atrações variadas e incentivos para o uso do espaço bibliotecário para atividades diversificadas. O resultado foi presença de quase 60 mil pessoas nas três bibliotecas contempladas (Nacional, Núcleo Bandeirante e Cruzeiro).

Mudança agrada frequentadores

A Biblioteca Vó Philomena, no Núcleo Bandeirante, foi uma das   mais beneficiadas pelo projeto de modernização Bibliotecas do Cerrado. Lá, há um telecentro, com 12 computadores à disposição, e um acervo específico, turbinado por contribuições do Arquivo Público do DF, sobre a história da cidade.


A eletrotécnica Lilian de Almeida, de 35 anos, aprovou as mudanças em relação ao que presenciou antes de agosto de 2013. “O laboratório de informática ajuda muito e ultimamente tenho vindo muito para cá para estudar”, conta. “Antigamente nem ar-condicionado tinha, então quando ficava quente era difícil fazer qualquer coisa, quem dirá ler”, recorda-se.

Ela defende ser fundamental haver espaço de qualidade, pois, além da possibilidade de estudo, é um importante local de conservação da memória escrita e literária regional e nacional. 

“Mesmo com a internet, nada substitui um livro”, disse. Sua única crítica é referente a minúcias. “Só acho que deveria haver mais cadeiras, pois há sempre muita gente querendo sentar”, opina.

Ao ar livre
Fora do espaço das bibliotecas, existem iniciativas que permitem acesso à literatura ao ar livre, em ações curiosas. Na Asa Norte, incentivadas pelo açougue cultural T-Bone, as paradas de ônibus ganharam estandes com livros, liberados ao público em geral para pegar  à vontade, contando com o bom senso para a devolução.

Criatividade como estímulo
Na QE 32 do Guará II, uma ideia criativa para incentivar o hábito da leitura entre os moradores chamou a atenção. Uma geladeira inutilizada foi pintada e caracterizada para conter livros. É uma opção para os cidadãos não precisarem ir até a Biblioteca do Guará, ao lado do Cave, e ainda deixa a pracinha mais agradável. A estudante Darciane Diogo Gonçalves, 17 anos, aprovou.

“Abri de curiosidade uma vez. Primeiro achei estranho, porque é uma geladeira, mas depois pensei ser uma forma criativa de transmitir educação”, diz a moça, que mora na QE 40, mas frequenta a 32 semanalmente.

Alto investimento
O investimento para transformar o Núcleo Bandeirante e Cruzeiro, além da Biblioteca Nacional, em referências não foi pequeno. Cerca de R$ 500 mil foram investidos somente nas três. Com a expectativa de ampliar o Cerrado para todos os espaços públicos do DF, mais dinheiro ainda deve ser demandado. Assim, é fundamental que não seja repetido o descaso, como visto na Demonstrativa.

Na era da digitalização das informações e da agilidade dos dados, talvez os livros pareçam obsoletos. Daí a necessidade de transformar os espaços em zonas multiculturais, capazes de agregar a comunidade e promover atividades produtivas.

“As bibliotecas deveriam servir para procurar emprego, entrar em contato com seu deputado ou ler um livro. Uma biblioteca pode fazer diferença no desenvolvimento da comunidade”, diz o diretor do Sistema de Bibliotecas Públicas,  Wander Filho.




Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário