FÓRUM A
FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO: DESAFIO CONTEMPORÂNEO
São
Paulo,26 a28 de maio de 2014
Auditório da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin
USP/Escola de Comunicações e Artes
CARTA
ABERTA – FÓRUM “FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO”
Os coordenadores de cursos de
Biblioteconomia, docentes, profissionais e estudantes da área, reunidos na
Universidade de São Paulo, após ampla discussão sobre temas relacionados à
formação do Bibliotecário, desejosos em partilhar resultados, propostas,
dúvidas, certezas e incertezas, tornam público as conclusões de todas as
atividades desenvolvidas entre os dias 26 e 28 de maio de 2014.
A dinâmica do evento consistiu de
palestras em um dos períodos e discussões em grupos, no outro. Os participantes
dividiram-se em grupos compostos, cada um deles, por coordenadores de curso,
docentes, profissionais e alunos. As discussões e debates partiram de questões
previamente apresentadas. As sínteses diárias foram expostas por coordenadores
ou relatores dos grupos, com o intuito de partilhar com todos aspectos mais
específicos dos bastidores de cada grupo.
Os debates seguiram pontos entendidos
como importantes, básicos e determinantes para a formação do Bibliotecário:
- Produção de conhecimento dos
cursos de Biblioteconomia voltada para responder às demandas da sociedade. Tais
demandas são identificadas?
A velocidade das demandas provenientes
da sociedade é de difícil resposta, ao menos imediata, por parte das universidades.
Muitas dessas demandas são identificadas, embora de maneira superficial.
Algumas explicações para isso podem ser visualizadas ou inferidas, entre elas,
o desconhecimento sobre o que vem a ser essa demanda e o que a sociedade
deseja; a falta de identidade do bibliotecário; pequena ou inexistente
aproximação entre os docentes dos cursos e os profissionais; dificuldade em
acompanhar as diversidades diante das necessidades impostas pela sociedade.
Com base na identificação desses
problemas, acredita-se ser necessário conhecer melhor os caminhos trilhados
pelos egressos, suas dificuldades, obstáculos enfrentados na vida profissional;
a valorização da base geral de formação do bibliotecário (questões históricas,
políticas, sociais etc.); equilíbrio de conteúdos na formação do profissional;
enfatizar nos cursos, projetos de empreendedorismo social; desenvolver e
implementar projetos político-pedagógicos (estruturas curriculares mais
flexíveis) que possibilitem aos alunos escolherem seus percursos acadêmicos;
pensar sempre a missão das bibliotecas (públicas, escolares, universitárias) em
conjunto: sociedade, IES (alunos, docentes).
Um ponto positivo nesse tema é a
relação do alunado com o mercado de trabalho, em especial aqueles que já
possuem uma outra formação universitária, sendo a Biblioteconomia sua segunda
graduação.
Merecem atenção e reflexão as
implicações para a identificação das demandas sociais, e sua relação com a
formação generalista dos cursos de Biblioteconomia.
- A participação dos cursos
de Biblioteconomia na elaboração de políticas públicas.
Os grupos acordaram que não há
participação dos cursos na definição de políticas públicas tanto gerais como as
que implicam diretamente no fazer do bibliotecário. Quando há, ocorre de
maneira incipiente, insuficiente e tímida. Alguns problemas foram elencados:
falta de reconhecimento e de representatividade dentre as instâncias políticas,
gestoras e sociais; falta de voz política; há, também, distanciamento entre os
cursos e a política universitária, ressaltando-se que os alunos igualmente têm
uma postura passiva em relação a atividades na própria universidade, tendo os
cursos parcela de responsabilidades em relação a isso.
Aponta-se, por outro lado, a
participação dos cursos, de forma indireta, em demandas específicas, por meio
de docentes/pesquisadores (o que não necessariamente caracteriza inserção do
curso enquanto tal no âmbito das políticas públicas).
Saliente-se que os cursos devem
realizar ações que viabilizem tal participação, possibilitando uma efetiva
interferência nas políticas públicas, de tal forma que os anseios e
necessidades da área possam se fazer ouvir.
– Os cursos de Biblioteconomia
e as exigências do mercado de trabalho – público ou privado.
As reflexões, debates e discussões apontaram
para um atendimento parcial das solicitações do mercado de trabalho, embora não
na proporção exigida por ele. Alerta-se, por outro lado, que a formação
universitária deve estar além das exigências do mercado, sendo estas um dos
pilares norteadores e estruturadores da construção dos projetos político
pedagógicos dos cursos de Biblioteconomia, em especial quando da determinação
do perfil do profissional que se pretende formar.
Alguns problemas foram evidenciados: é
preciso ampliar as discussões sobre um possível fim do espaço biblioteca, com
implicações óbvias quanto ao mercado de trabalho e os cursos; permanência do
bibliotecário restrito apenas a um fazer voltado para a organização de acervos
físicos e eletrônicos; necessidade de atuar com várias competências
informacionais; sobrevalorização da pós-graduação, ou seja, considerar-se a
graduação e seu olhar para a formação profissional, como questão secundária ou
de menor importância; crise de identidade vivenciada pela área; dificuldade em
identificar o mercado de trabalho, tanto em seus aspectos mais específicos como
em relação a nichos potenciais; alunos não vocacionados para o fazer e o pensar
biblioteconômico, uma vez que iniciam sua vida acadêmica sem saber o que é a
área e o que faz o bibliotecário.
Aponta-se a necessidade urgente e
imediata de se rediscutir as relações mercado-estágio-IES.
Sugere-se ao Sistema Conselho Federal e
Regionais de Biblioteconomia que repense a participação e representação
integral das escolas de Biblioteconomia.
Dois aspectos são vistos como de
importância sobre a relação cursos e mercado de trabalho: em determinadas
regiões existe muita empregabilidade e há, em boa parte dos espaços de
abrangência dos cursos, muita oferta de estágios.
Destaca-se que os cursos de
Biblioteconomia não podem ficar reféns do mercado, pois a universidade não
forma profissionais apenas para atendê-lo.
- Alta evasão e baixa procura
nos cursos de Biblioteconomia. Causas e superação.
A alta evasão e a baixa procura, nos
cursos de Biblioteconomia, não foram entendidas como uma ocorrência geral, ao
contrário, estão elas concentradas em determinadas regiões e em alguns cursos.
Nota-se, com base no relato dos participantes dos grupos de discussão,
diferenças claras entre as escolas públicas e privadas, no tocante a esse tema.
Também foi observado o baixo índice de evasão nos cursos noturnos, diferente do
que ocorre com os cursos vespertino e diurno. De igual forma, evidenciou-se o
mesmo baixo índice nos cursos que possuem muitos alunos que já trabalham na
área. Nos cursos vinculados a IES públicas, nos locais em que há uma
diversidade no mercado de trabalho, os alunos tendem a permanecer por mais
tempo no curso. A evasão maior concentra-se nos primeiros semestres dos cursos.
Faltam, no entanto, estudos sistemáticos sobre evasão por parte das escolas.
Os problemas que atuam tanto para a
alta evasão e para a baixa procura, nos locais em que isso ocorre, foram, entre
outros, assim apontados: falta de identidade do curso e do profissional; pouca
relação entre as disciplinas não permite que o aluno tenha uma visão de todo o
curso; a auto-imagem do profissional pode influenciar na permanência e no
ingresso ao curso; muitos alunos entram sem conhecer adequadamente o curso; o mercado
não conhece o fazer do bibliotecário; a falta de ações afirmativas do exercício
profissional reflete efetivamente na baixa procura e na evasão; alunos adiam a
formatura para não perder a remuneração do estágio; alunos usam o curso para se
transferir para outros na mesma Universidade, ou seja, a facilidade maior de
ingresso no curso o transforma em trampolim para outros cuja concorrência é
mais acirrada; desatualização de currículos pode ser uma das causas da evasão;
alunos desinteressados, cujo objetivo é apenas o de obter um diploma de curso
superior; baixa qualidade da educação básica; a falta de perspectiva de
mercado, ou o desconhecimento dos vestibulandos sobre isso, pode ser também
parta a baixa procura.
Algumas ações podem, ao menos, amenizar
essa problemática: conhecendo melhor o fazer do bibliotecário, os alunos passam
a se identificar melhor com o curso; a abordagem mais “tecnológica” dos
conteúdos curriculares pode ser um elemento atrativo e em sintonia com o atual
perfil do aluno; chegando sem saber exatamente o que quer, o aluno, no decorrer
do curso, vai se ajustando e, nesse caso, a figura de um “orientador de
formação” (coaching, tutor) pode ser interessante como uma das garantias de
condições de permanência e de identificação de oportunidades (é comum, por
exemplo, o aluno perder oportunidades porque as demandas são apresentadas com
nomenclaturas diferentes); incluir no primeiro período do curso (semestre/ano),
professores capazes de provocar entusiasmo pela Biblioteconomia; incluir no currículo
disciplinas mais atraentes; ações divulgadoras do curso, com preocupação
especial quanto às estratégias, podem resultar em um aumento da procura.
Além disso, extrapolando os muros da
universidade é imprescindível uma mudança da postura do profissional
bibliotecário.
Identificou-se entre alguns
participantes, a necessidade de o Conselho Federal de Biblioteconomia discutir
e avaliar a exigência incondicional do registro profissional exclusivamente
para os Bacharéis em Biblioteconomia.
Apesar do evento se voltar para a área
da Biblioteconomia, os problemas discutidos neste item não são exclusivos dela.
Dessa maneira, seria interessante verificar com áreas correlatas como elas
diagnosticam e tratam a questão.
Ponto favorável dos cursos da área:
empregabilidade rápida; satisfação de egressos.
- Formação de um Bibliotecário
“genérico”. Formação ampla (que atenda, por exemplo, às demandas escolares e as
corporativas). Superação dessa condição da formação bibliotecária.
Considerou-se a formação genérica importante
e é possível formar um profissional generalista.
A especialização dentro do curso pode
ser um empecilho na atuação. A saída pode vir a ser uma formação mista, com
especificidades em determinadas áreas.
As diferentes demandas específicas
devem ser tratadas como especializações, o curso deve ter clareza, contudo,
sobre o núcleo “duro” da área.
Para superar esse ensino generalista, o
caminho pode estar em cursos de especialização, realizados após a formação
básica. Outra possibilidade vincula-se à maior oferta de disciplinas optativas
abordando diferentes áreas do conhecimento (tecnológica, social etc.). Ainda
dentro de trilhas alternativas, podemos incluir uma revisão curricular mais
dinâmica, constante e frequente. De igual maneira, os cursos devem potencializar
a autonomia dos alunos, transformando-os em corresponsáveis por sua formação.
Há que se alterar as práxis pedagógico-curriculares. Isso pode levar à
imposição de se pensar num novo modelo formativo.
Alguns problemas devem ser superados
como professores que fogem do Projeto Pedagógico, distanciando-se de um
trabalho conjunto e harmônico do curso. Este, por sua vez, tem que ter um
produto a oferecer.
- Importância e o papel de
recursos online no ensino da Biblioteconomia. Ele pode contribuir para a
autonomia dos discentes?
A concordância do papel dos recursos
online no ensino da área foi unânime.
Alerta-se, no entanto, que falta uma
infraestrutura adequada para seu emprego; que os recursos devem encarados como
extensão da sala de aula; que existe resistência do professor em usar
tecnologias como recursos didáticos; que os professores precisam ser
capacitados.
Há uma potencialidade concreta no uso
dos chats, salas virtuais etc.
Sugere-se a formação de grupos para
elaborar material didático específico para esses ambientes e a necessidade de
mudanças das políticas didático-pedagógicas das instituições e de investimento
na graduação.
Aproveitamos para informar que os cursos de Biblioteconomia
deverão discutir o texto e aprofundar as questões. E que o próximo encontro,
sob a coordenação da ABECIN (Associação Brasileira de Educação em Ciência da
Informação), será realizado em Belém, com o apoio da UFPA, em 2015.
Fonte: ABRAINFO.
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