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terça-feira, 24 de junho de 2014

Library of Congress quer destruir seus CDs antigos: em nome da ciência!

Texto traduzido do site The Atlantic:

Caso tenha tentado ouvir algum dos seus velhos CDs ultimamente, se é que você ainda os tem, deve ter notado que eles não tocam mais. Bem, pelo menos foi isso que aconteceu com os meus.
Há muito tempo que os aparelhos de som desistiram de tocar a maior parte dos CDs que gravei na época da faculdade (o que, na maioria dos casos, acaba sendo pro nosso bem!). Embora a maioria dos álbuns originais que comprei ainda toquem, não é possível prever por quanto tempo resistirão. Meu antigo tesouro, minha coleção de CDs – tão cuidadosamente reunida ao longo de cerca de uma década, a começar de 1994 – não está simplesmente envelhecendo, está morrendo. E a sua também.

“Todos os formatos modernos não foram de fato feitos para durar mais que um período de tempo” – afirma Fenella France, chefe da seção sessão de pesquisa, preservação e testes da Biblioteca do Congresso – “eles foram desenvolvidos para a produção em massa”.
“Se você realmente quiser matar seus discos, apenas abandone-os em carro durante o
verão”.
France e seus companheiros estão tentando compreender como os CDs envelhecem para que possamos entender melhor como salvá-los. Trata-se de um negócio delicado, principalmente pelo fato de os fabricantes terem mudado seu processo de fabricação ao longo dos anos e não estarem dispostos a dizer como. Assim, o que conhecemos é apenas a composição básica dos CDs: há uma camada plástica de policarbonato, uma camada refletiva de metal que contém todos os dados e, por fim, um revestimento no topo. Mas é impossível dizer o quanto um CD irá durar apenas olhando para ele.
“Nós estamos tentando fazer uma previsão em termos de coleção, quais os tipos de CDs que estão correndo maior risco”, diz France. “O problema é que diferentes fabricantes possuem diferentes processos de produção, por isso, é bem complicado tentar descobrir o que exatamente está acontecendo, pois eles alteraram suas fórmulas ao longo do caminho e esses dados são tratados como informação privada”.
Mesmo CDs fabricados pelas mesmas empresas no mesmo ano e embalados de forma idêntica têm expectativas de vida completamente diferentes. Foi o que a Biblioteca do Congresso descobriu ao testar cópias idênticas de Earthbeat – álbum de Paul Winter indicado ao Grammy de 1987.
Os dois discos aparentemente idênticos foram expostos ao calor e humidade extremos em uma máquina de aceleração de envelhecimento. Eles cozinharam por cerca de 500 horas à quase 80°C graus em uma humidade relativa de 70 por cento – mais ou menos aquilo que se espera de um dia escaldante de Julho na cidade de Nova York, mas não tão húmido quanto em uma floresta tropical. Um dos CDs emergiu praticamente intacto. O outro perdeu todo o seu conteúdo musical, completamente destruído pela oxidação. Veja o CD destruído, quase transparente, à direita:


“Eles começaram o processo com aparências idênticas” – diz France – “eu queria poder dizer de forma definitiva que ‘se você tem um CD produzido em 1984, você tem um grande problema’, mas as coisas não são tão simples assim”.
Se você estiver querendo dar fim aos seus CDs antigos, a biblioteca os destruirá pra você com todo o prazer! E é claro: “em nome da ciência!”, diz France. “E que as pessoas saibam que assim nenhum material da biblioteca é danificado” (Nota: um porta-voz da Biblioteca do Congresso me pediu para informar as pessoas que neste momento a central tem um “suprimento suficiente de CDs para suas pesquisas e testes”).
O centro de Análise de Amostras Científicas da Biblioteca (Center for the Library's Analytical Science Samples) é um laboratório de destruição, um local onde os pesquisadores podem praticar “testes destrutivos” em materiais não pertencentes à biblioteca como forma de aprender como melhor cuidar das coleções verdadeiramente pertencentes ao acervo. Os funcionários podem optar por testes de envelhecimento mais agressivos como aquele aplicado ao Album Earthbeat, ou simplesmente deixar que os CDs envelheçam e analisa-los a cada década ou período semelhante.
Há todos tipo de fatores que aceleram o envelhecimento do CD em tempo real. Em algum momento, muitos CDs começam a apresentar sinal de corrosão em suas extremidades: resultado do oxigênio se infiltrando em uma das camadas do disco. Alguns CDs começam um processo de deterioração conhecido como bronzeamento, que é a própria corrosão agravada devido à exposição a vários poluentes. Os lasers dos equipamentos usados para gravar ou até mesmo para tocar esse CD também podem afetar sua longevidade.
Por fim, há o desgaste que é provavelmente parte do que você espera que naturalmente vá acontecer ao longo do tempo – como os arranhões e a exposição a temperaturas extremas: “se você realmente quiser matar seus CDs apenas abandone-os em seu carro ao longo do verão. Eis uma excelente forma de destruí-los”, afirma France.
Mas, antes de tudo, muitas pessoas não sabem como cuidar adequadamente de seus CDs. Por exemplo, a melhor forma de segurar um CD é pelo buraquinho que há em seu centro; a superfície superior do CD – o lado que fica para cima enquanto está tocando – é mais sensível que a superfície oposta. France completa: “as pessoas normalmente se preocupam mais com os arranhões da superfície inferior, mas normalmente o estrago é bem maior se você tem um arranhão na face superior, pois o arranhão perpassa e impacta a camada refletiva de metal. Assim, frequentemente, encontramos pessoas cuidando para não colocarem suas mãos por baixo, mas o melhor mesmo é segurá-lo pelo centro”.
É também bom que você não encha a superfície de seu CD com etiquetas – o adesivo cria reações químicas que rapidamente consomem as informações – ou marcadores permanentes. “No momento em que você começa a escrever naquela superfície superior, você está se preparando para a degradação”, diz France. Assim você pode ver por que essa relíquia parou de tocar, suas listas de reprodução e respectivos volumes são um mistério já há muito tempo.


CDs graváveis – do tipo que se pode gravar ou regravar – tendem a sofrer problemas de degradação mais complicados que seus pares profissionalmente produzidos. Parte disso, segundo France, porque são feitos de corantes orgânicos que se degeneram mais rapidamente. E embora diferentes tipos de discos sejam produzidos, de forma geral, CDs tendem a ser mais estáveis que DVDs, isso pelo simples fato de que DVDs comportam mais dados e, portanto, têm mais a perder.
Mas esse tipo de obsolescência tem um jeitinho especial de nos apavorar. Mesmo os pesquisadores da Biblioteca do Congresso, envolvidos nos esforços de preservação dos CDs dizem que os acadêmicos demoraram mais do que deveriam para começar a se preocupar com esse tipo de trabalho. “Nós realmente não nos concentramos muito na mídia do século XX, a gente simplesmente pensa que há várias cópias das coisas. As pessoas puramente presumiram que as coisas estão amplamente distribuídas”.
E o desaparecimento dos aparelhos toca CD é tão significativo quanto o fracasso dos próprios CDs. “Com frequência, [a preservação] está sendo tomada como a separação do físico do digital, sendo que o conceito como um todo é o mesmo. Mesmo o que chamamos de digital precisa de um meio físico para ser reproduzido”.
Os drives de CD estão desaparecendo dos novos modelos de carros e laptops. Muitos dos locais onde costumávamos comprar CDs se foram. A lembrança de sair para dar uma corridinha com um Discman na mão parece absurda agora, mas aquele modelinho amarelo impermeável da Sony Sports já foi top de linha. Hoje até o iPod que tomou seu lugar parece um tijolo se comparado aos seus modernos sucessores.

Sim, a onipresença de mídias outrora dominantes está mais uma vez se esvaindo. Bem como boa parte da tecnologia que deixamos para trás, os CD estão sendo esquecidos aos poucos. Por fim, até os fragmentos desaparecem. Adeus aos fragmentos metálicos de CDs reluzindo na boca de um bueiro. Adeus às velhas tiras de fita cassete entrelaçadas em galhos de arvores como fitilhos brilhantes. Nós paramos de usar os velhos formatos pouco a pouco. Eles pararam de funcionar. Paramos de substituí-los e, em pouco tempo, eles desapareceram.

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