A
ideia é simples, talvez até antiga, e já é utilizada com sucesso nos outros
mercados da arte (como a música e o cinema): um grupo de colaboradores
contribui com determinadas quantias em dinheiro para um projeto que pode então
ser viabilizado - o que não aconteceria se esse esforço coletivo não existisse.
O mercado editorial brasileiro agora volta os olhos ao crowdfunding: nos
últimos dois meses, duas plataformas dedicadas ao conceito e exclusivas aos
livros passaram a operar no país.
Funciona
assim: a plataforma recebe uma proposta de campanha de um autor, analisa,
aprova e coloca à disposição na web. Os leitores interessados podem então fazer
uma colaboração em dinheiro (por cartão de crédito ou boleto) e, se o projeto
atingir a meta preestabelecida, o dinheiro arrecadado é utilizado para
viabilizar os custos de produção e distribuição do livro.
A
Bookstart - iniciativa de dois profissionais do Rio oriundos do mercado
financeiro, Bernardo Obadia e Vitor Arteiro - iniciou suas operações há pouco
mais de dois meses, e já conta com um projeto bem sucedido, em fase final de
produção (o livro Confissões ao Mar, de Kadu Lago). Outros cinco projetos já
estão abertos no site da startup, que pretende oferecer uma alternativa ao
mercado editorial.
Como
o volume da produção recebida por editoras é muito grande, a Bookstart acredita
que o modelo do crowdfunding possa fazer uma "peneira" efetiva que
ofereceria oportunidades ao mercado. "O crowdfunding consegue descobrir
novos talentos e oferecer um pacote estatístico, com dados sobre os leitores,
muito importante para o marketing do livro", diz Obadia.
Na
Bookstart, cada campanha proposta pelos autores é analisada pela equipe, que
define se o projeto tem potencial de sucesso. Se tiver, a equipe "dá uma
lapidada" e coloca a campanha no ar. Como quase toda iniciativa de
crowdfunding, o modelo é o "tudo ou nada", em que, para ser
viabilizada, a campanha precisa atingir 100% da meta.
De
acordo com Obadia, muitos autores independentes já procuraram a empresa.
"Não temos a intenção de nos tornarmos uma editora", enfatiza. O
objetivo é oferecer um serviço que fique entre a autopublicação e o trabalho de
uma editora profissional. "Vamos publicar com alguma qualidade e ao mesmo
tempo dar capilaridade para autores independentes", afirma.
O
modelo, segundo Obadia, tem capacidade de publicar qualquer obra de qualquer
gênero literário. "O mercado começa a entender, o caminho está certo,
vamos conseguir", diz, otimista.
A
Bookstart, que começou com investimentos próprios dos fundadores, já está em
negociação com investidores para acelerar seu crescimento. A empresa espera
publicar entre 20 e 25 obras por mês nos próximos 18 meses, com uma venda de
1,1 mil exemplares mensais.
Outra
iniciativa, também do Rio, é a Bookstorming. Com um modelo um pouco diferente -
a startup surgiu de dentro do mercado editorial -, a Bookstorming se aproxima
mais de uma editora, mas ao mesmo tempo se coloca como alternativa e
oportunidade para as outras editoras.
Se
o crowdfunding já está estabelecido no mercado da música, por exemplo, o editor
Breno Barreto, um dos fundadores da Bookstorming, acredita que ele também vai
se consolidar no mercado editorial.
O
que eles pretendem é transformar ideias em livros. "O crowdfunding permite
apresentar uma ideia que pode ser um sucesso, mas sem riscos: se não funcionar
com o público, ninguém perde dinheiro", exemplifica Barreto. O primeiro
projeto da startup é o livro Desordem, uma coletânea de contos de jovens
autores, como Natércia Pontes e Cristiano Baldi. Até essa segunda-feira, 16, o
projeto tinha arrecadado 81% da meta, que precisa ser atingida em três dias.
A
diferença para o modelo de edição tradicional passa ainda pelo fato de que,
antes do processo de edição começar, todos os livros já estão vendidos.
"Assim, nós podemos caminhar de um modo muito mais transparente", diz
Barreto, ressaltando que a empresa também partiu da percepção de que existe a
necessidade de maior contato entre as pessoas que fazem o livro nascer e os
leitores. "A literatura é feita de pessoas para pessoas, e por uma questão
do mercado isso se perdeu", constata.
Barreto,
que também trabalha na editora Casa da Palavra, diz que ficou impressionado com
o número de autores e empresas que buscaram a Bookstorming para montar
campanhas ou estabelecer parcerias.
O
primeiro acordo foi com a editora e-galáxia. A editora vai produzir os livros
digitais para os projetos de crowdfunding e a Bookstorming vai montar as
campanhas para autores que tenham interesse em publicar pela editora mas que
não podem fazer o investimento inicial. Outra parceria já estabelecida é com a
Polifonia, espaço de ensino de São Paulo que também trabalha com criação
colaborativa. Eles compraram uma cota de livros do Desordem e a Bookstorming
vai levar alguns autores do livros ao espaço da Polifonia.
"Estamos
com a cabeça aberta para diversificarmos o modelo", diz Barreto.
"Fomos aceitos, então não precisamos ficar presos a um modelo
apenas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Info.
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