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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Mosteiro de São Bento lança site com acesso grátis a 60 obras raras digitalizadas

Em 1582, monges beneditinos portugueses fundaram o Mosteiro de São Bento da Bahia, o primeiro da nova colônia e um dos primeiros fora da Europa. Durante a imigração, os monges trouxeram manuscritos, iluminuras, livros, documentos históricos, cartas, testamentos, mapas, partituras musicais, desenhos e plantas de arquitetura que hoje compõem o acervo da Biblioteca do Mosteiro de São Bento.
Algumas dessas preciosidades agora estão disponíveis para o público geral. Depois de um processo de restauração, o mosteiro lançou, ontem, o portal Livros Raros, que disponibiliza uma valiosa coleção com 60 obras raras da biblioteca digitalizadas e que podem ser acessadas gratuitamente através do site www.saobento.org/livrosraros
O projeto de recuperação, que durou cerca de dois anos, contemplou obras dos séculos XVI ao XIX que tratam não só de teologia como também de medicina, homeopatia, história, sociologia e literatura. Além de português, há textos em latim, francês, galego, espanhol, italiano e árabe - muitos não identificados em nenhuma outra biblioteca do mundo. 

Publicações como Comentario as Sentenças de Duns Scoto, do Fr. Nicolau de Orbellis, de 1503; e Suma Theologica Secundae, de São Tomas de Aquino, de 1534 - os textos digitalizados mais antigos -, além da coleção Obras Completas de Luiz de Camões, de 1873; o compêndio Cartas Selectas, de Padre Antônio Vieira, de 1856; o Index Librorum Prohibitorum, do Papa Bento XIV, de 1764; e a Historia dos Judeos, de Flavio José, de 1793, podem ser lidas com apenas alguns cliques. 
“Essa ação iniciou em 2006, com a seleção de algumas obras para pequenos projetos. Depois, percebemos a necessidade de uma maior abrangência. Para isso, chamamos uma empresa de São Paulo que usou tecnologias que nunca haviam sido usadas aqui”, conta a filóloga e coordenadora geral do Centro de Pesquisa e Documentação do Livro Raro do Mosteiro, Alícia Duhá Lose.

Desinfecção

 A tecnologia, chamada “desinfestação por atmosfera anóxia”, parece coisa de filme de ficção. O livro é colocado dentro de uma bolha com um gerador de nitrogênio. O processo retira todo o oxigênio dos livros e extermina as pragas por asfixia. Enquanto algumas peças precisaram apenas de higienização, outras não tinham condições de sequer serem manuseadas e passaram por um processo de restauração ainda mais rigoroso.

Mônica Pedreira de Souza, uma das responsáveis pela equipe de restauro, explica que cada livro levou entre um e três meses para ser reparado. “O tempo de restauração depende do tamanho do livro e do estado em que se encontra, se está mais destruído, corroído por inseto, mofo”, completa. Mônica revela que, depois de diagnosticar a condição da obra, é feita a higienização e depois um teste de acidez, para atestar se o livro vai passar por um banho de desacidificação ou a velatura, uma técnica de aplicação de tinta transparente ou verniz. 
“Depois, o livro recebe um banho de água morna para retirar a sujidade e depois um banho para estabilizar o PH com hidróxido de cálcio”, detalha. O livro ainda passa pela máquina de obturação de papel, a secadora e, por fim, a prensa para planificar. “A única coisa que não recuperamos é a capa, porque ainda não fazemos restauração em couro”, diz Mônica.


Democracia 
O arquiabade do mosteiro, dom Emanuel d’Able do Amaral, revela que a ideia que culminou nesse projeto nasceu em 1996, quando a biblioteca ganhou um novo espaço. “Essa foi a primeira etapa do que estamos vendo hoje. A segunda foi quando criamos o laboratório de restauração, que era raro no Nordeste. E a terceira etapa do processo começou com o trabalho do grupo de pesquisa da Faculdade São Bento e de outras instituições que tiveram acesso ao material”, afirma.
Para dom Emanuel, o objetivo principal da biblioteca - a segunda maior em acervo de obras raras do país - é democratizar a informação e, principalmente, a cultura. “Não tem sentido ter um acervo se ele ficar trancado e ninguém ver. Um livro que não é lido perde sua finalidade. Em nosso país falta não só a partilha dos bens materiais, como também dos bens culturais. E é isso que queremos: a democracia cultural”, afirma.
A coordenadora do Centro de Pesquisa do mosteiro, Alícia Lose, também celebra a iniciativa, pouco comum para instituições religiosas. “É uma raridade estar vivendo esse momento. Acervos eclesiásticos são privados, mas são de interesse público. Aqui temos livros que remontam o século XVI, que vieram com os monges e ficaram mais de 400 anos trancados”, analisa. 
O interesse de pesquisadores e estudantes foi fundamental para que o projeto se consolidasse. “Foram 43 pessoas envolvidas diretamente, fora os muitos funcionários do mosteiro que nos ajudaram e isso partiu da demanda. As pessoas pediam as obras e, para dar acesso, digitalizamos. É assim que é feita a seleção. E depois disponibilizamos no site”, diz Alícia. 
“Esse é um trabalho feito para a comunidade. Os livros continuam no setor de obras raras, preservados, mas podem ser acessados por qualquer um e a qualquer hora. Pense que se um livro tivesse alma, estaria chorando por estar preso sem poder ser lido. Mas agora ele não vai mais chorar”, brinca o arquiabade dom Emanuel.

Acervo Geral 

Acesso livre para consulta, de segunda a sexta, das 8h às 18h, e sábado, das 8h às 13h. Para empréstimo, somente para alunos da Faculdade São Bento da Bahia.


Acervo Obras Raras 

Acesso para pesquisadores com a presença de funcionários da biblioteca. Acesso livre e gratuito no site www.saobento.org/livrosraros.


Arquivo Acesso apenas mediante a autorização prévia. O arquivo conta com documentos importantes denominados de Memória do Mundo da Unesco.


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