Pesquisa
realizada pelo Instituto Brasil Leitor ao longo de 2013 com 500 usuários da
biblioteca Embarque na Leitura da estação Paraíso indica que a existência de
uma biblioteca gratuita, de fácil acesso, com acervo de livros novos e
diversificados estimulou o hábito da leitura dos usuários do transporte
público. Entre os dados apurados, aumento de 62% no índice de leitura, e mais
de 73% dos pesquisados afirmando que o hábito colabora para aumentar o
repertório cultural.
“Os
números nos impressionaram muito positivamente. Eles corroboram a ideia de que
fazer com que as pessoas ‘tropecem’ nos livros é fundamental para desenvolver
ou reforçar o hábito da leitura”, explicou William Nacked, presidente do
Instituto Brasil Leitor.
Apesar
da eficiência do projeto em democratizar o acesso ao livro, no sistema
metroviário de São Paulo as unidades foram fechadas por falta de patrocínio. A
da estação Paraíso foi a última a encerrar as atividades, em dezembro de 2013,
com média mensal de 1.600 empréstimos, total de 22.720 sócios e mais de 250 mil
livros emprestados. Hoje o projeto conta com Bibliotecas IBL ativas em sistema
de transporte de capitais como Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife e cidades
como Piracicaba (SP) e Campo Largo (PR).
A
pesquisa
“A
ideia foi acompanhar o desenvolvimento das bibliotecas com a finalidade de
dimensionar o efeito que elas causavam nos usuários. A do metrô Paraíso foi
escolhida por ser, na época, a unidade com maior número de filiados”, explicou
Gustavo Gouveia, coordenador da Rede de Bibliotecas do Instituto Brasil Leitor
e condutor da pesquisa. Foram respondidos 500 questionários, cada um com dez
perguntas (sete fechadas e três abertas). “Com esse banco de dados, foi
possível traçar um perfil social e cultural do leitor, sua relação com o livro
e o imaginário dele em relação à leitura. Também foi fundamental para verificar
a importância de se oferecer bibliotecas em sistemas de transporte”, analisa
Gustavo.
Para
quem já tinha o hábito de ler, as bibliotecas permitiram um aumento
considerável no volume de leitura. Antes do projeto, as pessoas liam em média
1,6 livros por mês. Após o cadastro na biblioteca Paraíso, o número aumentou
para 2,6 livros, que representa um crescimento de 62%. Em números
absolutos, o resultado representa 12 livros a mais por ano para cada leitor.
A
maioria dos interessados por se cadastrar na biblioteca Paraíso era formada
por mulheres (69%), com média de idade de 37 anos.
O número de público feminino aumenta ainda mais quando analisados os
frequentadores que emprestaram livros por mais de uma vez (73%), ou seja, entre
aqueles que tornaram-se usuários recorrentes.
Quanto
à escolaridade, 39% tinham completado o Ensino Médio e 38%,
concluíram o Ensino Superior, resultado que sugere que, no local escolhido para
implementação das bibliotecas, já existia um público pré-disposto à leitura.
Uma
importante constatação foi de que a biblioteca possibilitou a formação
de novos leitores. “Apesar de a maior parte dos cadastrados já ser de
leitores, 82% dos entrevistados revelaram que passaram as
estimular outros a lerem. Eles aproveitavam a inscrição na biblioteca para
emprestar livros para familiares (36%), professores (27%) e amigos (10%)”,
revela o coordenador do IBL.
De
acordo com os resultados, a biblioteca foi frequentada por profissionais de
diferentes áreas de atuação, desde empregadas domésticas a professoras,
farmacêuticos, atores, bancários, enfermeiras, advogados entre outras. Sobre o
local onde liam com mais frequência, a maior parte (54%) revelou ler
dentro do transporte público(metrô, ônibus ou trem); 33% em casa; 9% no
trabalho; 2% em praças e parques e o resultado mais surpreendente: apenas 2%
dos usuários tem o hábito de ler em algum estabelecimento de ensino (escola,
faculdade ou cursos).
Quando
perguntados sobre o acesso que tinham à leitura, 65% dos usuários
não possuíam o costume de adquirir livros em livrarias ou sebos e um quarto
deles (23%) respondeu que só lia livros das Bibliotecas Embarque na Leitura.
Na
tentativa de mapear o gosto literário dos usuários do Embarque
na Leitura estação Paraíso, constatou-se que 53,9% dos entrevistados preferiram
romance, suspense e ação; 19,1% optou por livros religiosos ou espíritas;
11,9% gostam de temas de autoajuda; outra parcela com a mesma porcentagem,
11,9%, diz preferir o gênero não-ficção (história, geografia, biografia etc.);
e 0,9% relata outros tipos preferidos (como técnicos, poesia etc.).
Além
do gosto por temáticas específicas, a pesquisa avaliou a flexibilidade
dos leitores para conhecer gêneros literários diferentes do preferido.
Dentre os pesquisados, 78,9% se mostrou aberto à leitura de outros temas. O
restante (21,1%) está unicamente disposto a conhecer livros que se encaixem no
gênero que gostam.
Para
mapeamento do imaginário dos leitores da biblioteca Paraíso,
três perguntas dissertativas permitiram que o usuário tivesse liberdade para
responder. Por conta da diversidade de respostas, foi necessária a criação de
categorias em que as respostas pudessem ser agrupadas (em alguns casos, as
respostas se encaixam em mais de uma categoria – por isso as somas ultrapassam
100%).
“Por
que você considera importante ler?” foi
uma das questões. A maior parte (73,4%) argumenta que a leitura oferece aumento
no repertório cultural, no sentido de ampliar o conhecimento,
termo que, aliás, aparece em 41% das explicações. Além disso, 33% das respostas
giraram em torno da aquisição do vocabulário ou aperfeiçoamento da fala oral ou
escrita; 27% mostram a leitura como ferramenta para exercitar a reflexão e o
senso crítico. A minoria (25,2%) revelou que ler é para prazer ou distração.
A
partir da pergunta “O que te ou quem te influencia a ler?” foi
possível concluir que os grandes agentes que despertaram interesse por leitura
são: professores (27%), pais (24,8%) e amigos (10,2%). “O resultado ratifica a
importância do papel dos educadores na formação de novos leitores. Além de ser
alguém que ensina seus alunos a decodificarem a linguagem presente nos livros,
a maneira como ele faz isso contribui significativamente para que tenham prazer
pela leitura”, explica Gustavo Gouveia.
Na
última pergunta, os usuários da biblioteca foram convidados a avaliar o projeto
a partir de duas questões: “Que nota você daria à biblioteca entre 0 e
10?” e “O que você gostaria que fosse diferente no projeto?”. A média
de nota dada pelos usuários (9,4) demonstra quanto a iniciativa
Embarque na Leitura é bem vista pelo público. Dentre os comentários e sugestões
de melhora, a maior parte (29%) elogiou a iniciativa da biblioteca; 19,2% acham
que os acervos deveriam dispor de mais livros; 15,5 aposta que deveriam existir
mais bibliotecas em outras estações; 9,2% gostariam de ter acesso aos catálogos
e sinopses dos livros por meio dos sites do metrô e do IBL; 7,8% votou pelo
aumento no prazo de devolução do livro emprestado; 5,4% solicitam que o horário
de funcionamento deve ser estendido e 2% gostaria de ter acesso às estantes.
Sabíamos que a impressão era positiva, mas não deixamos de nos surpreender com
a excelente avaliação. Até mesmo nas sugestões, percebemos uma preocupação de
ampliação do projeto, tanto em estrutura como de multiplicação para outras
estações”, celebra William Nacked, presidente do IBL.
Fonte: Direcional Escolas.
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